Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro. [Jeremias 29:11]

Um dos meus filósofos favoritos, o crítico cultural britânico Mark Fisher, publicou em 2014 um ensaio intitulado O lento cancelamento do futuro (publicado, no Brasil, no livro Fantasmas da minha vida, editado pela Autonomia Literária). Nesse texto, Fisher argumenta que estamos perdendo o futuro de vista. Na cultura, que era sua especialidade, nada de novo parece acontecer: tudo aponta para o passado, cada álbum ou filme novo um pastiche de vários outros anteriores. Com esse lento cancelamento do futuro vem uma “deflação de expectativas”. Passamos a esperar menos da arte, mas não só dela: estamos perdendo a esperança no campo da política, dos relacionamentos e, acredito eu, até da religião.
É o que acontece quando uma sociedade se rende ao medo e não permite que o novo aconteça. Tudo é velho, e o futuro que nos espera é horrível. Melhor então voltar ao passado, seja no fascismo nostálgico que agora domina os Estados Unidos (“make America great again”, expressão vaga o suficiente para se encaixar ao desejo de qualquer um), no Bolsonaro que queria voltar para a ditadura e fazer o trabalho que ela não fez ou na igreja evangélica, que prefere se abraçar ao reacionarismo teológico (e político) do que apresentar um cântico novo (Sl. 96) e uma mensagem marcada pelas coisas novas que surgem quando estamos em Cristo (2 Co 5:17).
Parece que nós, cristãos, estamos muito confortáveis em deixar nossa esperança focada exclusivamente na vida após a morte, quando Jesus voltar, e nos esquecemos que essa esperança de um mundo porvir já começa a atuar agora. De acordo com Hebreus 12, nós não vamos receber um reino inabalável: nós já estamos recebendo o reino, com o verbo no presente contínuo. O reino de Deus já está entre nós, mesmo que não plenamente. Nos falta reavivar a esperança nesse reino.
Essa esperança dupla, para hoje e amanhã, é descrita de forma excelente pelo teólogo Richard Bauckham em seu A teologia do livro de Apocalipse. “Não é que o ‘aqui e agora’ tenha sido deixado para trás em uma fuga rumo ao céu ou ao futuro escatológico”, escreve ele, “mas, sim, que o ‘aqui e agora’ parece totalmente diferente quando está aberto à transcendência”.
Nossa esperança pelo futuro não é completa se ela não transforma nossa maneira de enxergar o presente nesse mundo, cheio de pecado e desgraça. Minha vida, então, é moldada pela vida futura: “venha a nós o Teu reino”, desde agora, quando estamos aqui repetindo a oração de Jesus.
O filósofo coreano-alemão Byung-Chul Han, escrevendo sobre esperança para a revista católica The Lamp, escreve que “o modo temporal da esperança é ainda não”. Inspirado no apóstolo Paulo, que na epístola de Romanos escreve que “a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará?” (8:24), Han diz que a esperança nos leva além daquilo que já está presente para aquilo que ainda não é. Podemos, então, trazer o futuro para o presente. Só assim vamos repetir com confiança a pregação de Jesus: o reino dos céus está próximo, ao alcance da mão. Ele já chegou.
Não deixe o medo dominar sua vida e limitar seu olhar ao passado (real ou imaginário, político ou teológico). O perfeito amor lança fora todo medo (1 Jo 4:18), e abre as portas para que a esperança que vem de Cristo nos capacite a realizar o futuro, ou pelo menos uma pequena parte dele, hoje.